domingo, 8 de abril de 2018

a luta




E quando a vida e tu entram em luta
uma luta desigual 
és o pequeno
demasiado pequeno
o medo de a enfrentares é enorme
sentes as energias quebrarem
mas estás no ringue
e decidiste lutar com ela 
sem perceberes como
nem porquê
mas o momento é este
ou vences ou serás vencido
olhas nos olhos
ela está com raiva
tu tentas perceber como a vais derrubar
ela não te dá tempo para pensares em estratégias
o murro é tão forte que cais
mas cais de uma maneira tão forte no tapete
que todo o teu corpo deixa de reagir
a contagem começa
tens 10 segundos
nesse momento perdes tudo
o mundo deixa de existir para ti
mas continua a vibrar
com os que querem que te levantes e continues a lutar
e com os tantos que querem que morras 
para ganharem nas apostas que fizeram
está quase a chegar aos 8, muitos viram as costas, está feito
mas do nada, o corpo começa num turbilhão
o sangue ganha força
o coração bate mais forte
a energia que havia saído do corpo como um sopro
regressa pelo nariz num ápice
sentes-te tonto
ouves umas vozes sumidas a pedir que te levantes
são poucas, não tens tempo
os tantos a quem te deste não estão a ver a luta
precisavas deles ali a gritar para te levantares
a energia deles faz-te falta
mas o tempo roubou-lhes a saudade de estarem presentes
ouves o número 9 e abres os olhos
mexes-te rápidamente, a contagem pára
tentas erguer-te
as forças são poucas
sentes-te tão fraco que nem sabes como te levantarás
mas aos poucos metes as mãos no chão 
fazes força nos braços
levantas a cabeça
metes um pé bem assente no tapete
e de um só impulso levantas-te
mas tão rápido que a vida olha para ti
e não acredita que a vais enfrentar de novo
ela sabe que te vai vencer 
estás fraco, mas tão fraco
que ela ri-se
um riso maquiavélico
enches o peito
fechas o punho
e pensas que se ganhares a luta
serás um vencedor 
e que todos os que queriam que o 10 chegasse
irão sofrer com o dinheiro que vão perder 
nas apostas que fizeram contra ti
de relance os teus olhos passam pela plateia
apenas vês uma ou duas pessoas
aquelas que vieram contigo
para te verem vencer e que gritavam
para te levantares
continuam a gritar
pensas na alegria que lhes darias
se vencesses a vida
mas não sabes como o poderás fazer
fechas os olhos
com uma raiva que não sabes de onde vem
queres parar aquele riso que troça de ti
e da tua pequena e magra figura
já fostes forte, mas agora já não o és
é o que diz o riso dela naquele som
um som que te irrita
de repente sentes uma energia
tão forte invadir o teu corpo 
que sabes o nome dela, raiva
a energia age irracionalmente
não tens tempo de pensar
o teu corpo reage à velocidade da luz
num movimento brusco
o teu punho fechado recua 
os joelhos fletem
rodas o tronco
e como se fosse uma mola
roda com toda a força 
o teu braço parece o gatilho da arma 
que dispara um tiro na cabeça
um tiro que não te é desconhecido
sim já o viste tirar-te o sorriso
mas agora o tiro é na vida que luta contra ti
não percebes como nem porquê
mas a tua mão bate com tanta violência 
naquele rosto marcado de cicatrizes
feitas pela linha do tempo
que o riso pára num milésimo de segundo
ouves um silêncio
os que viraram costas e iam levantar
o dinheiro das apostas 
rodam as cabeças para o ringue
ainda têm tempo de ver a vida 
antes desta bater no tapete
sim desta vez é ela que vai ao tapete
não querem acreditar
voltam de novo ao lugar
começam a gritar para que a vida se levante
são tantos e o barulho imenso 
sentes-te fraco com tanto som a entrar-te pelos ouvidos
tens medo que ela se volte a levantar
vais perder se acontecer
não tens mais forças
ela não reage
a contagem vai a meio e pedes para que chegue o 10
fazes tipo uma prece com muita força
deixas de ouvir os gritos
os olhos brilham
ouves o 8 e começas a ter esperanças
faltam dois segundos
parecem uma eternidade
oves o 10 e cais de joelhos
sentes-te triste e ao mesmo tempo alegre
é um misto de emoções, olhas para o lado
aquelas pessoas que gritavam por ti
choram de alegria
por momentos pensas naqueles que querias ali
para te verem a vencer, mas eles não estão
antes que o árbitro te levante o braço
para te declarar vencedor sais do ringue
e abraças a pessoa que mais gritou
ficou sem voz, não é precisa
a união é tão forte que sentes as lágrimas dela 
no teu rosto suado e dorido
ela confessa, pensava que te tinha perdido
tu dizes-lhe: Amo-te
Vamos viver intensamente agora?
Estás decerto de tirar os calções 
e tomar um banho frio
tirar a sujidade com que a vida te deixou 
sair dali e ir saborear o teu prato favorito
repor energia e matar a fome
tens sede, queres celebrar
uma ânsia enorme de ver o sol 
a tocar-te o rosto e o calor dele
fazer-te sentir-te amado
Saí rápido daí 
os que te queriam morto estão com raiva
se não saíresseles matam-te 
vira as costas e vai viver que a vida perdeu

Agora é o tempo da Vida ser tua! Ganhastes!
Aprendes-tes que só podes contar contigo!
Segue os passos que te levam para o caminho da felicidade
dá as mãos a quem te quis bem e sente!

Sabes o Feliz, não te lembres do Feliz, mas sim sê Feliz!!!

Texto e fotografia Daniel Pedrogam
Modelo: Paulo César
(para quem não sabe nem conhece o Paulo, esteve à beira da morte por causa de um Cancro, vence-o e agora está aqui entre nós. 
Houve um reencontro de 3 pessoas que estiveram a passar maus momentos devido a doenças, todos eles com um vinco marcado na área da produção de imagem, o tempo apagou-nos os momentos durante anos, agora queremos vivê-los, além de imagens, também descobrimos imensas coisas em comum, a escrita, este é uma homenagem à luta que ele travou, eu travei a Fernanda travou e tantos outros travam diariamente, a Vida por vezes é injusta…cabe-nos a nós levantar-nos e lutar ou não… leve o tempo que levar até a combater-mos vale sempre a pena tentar, custa, mas um dia a vitória tem um sabor tão fascinante que tudo o que passas, vives, vês, saboreias, sentes será mais intenso ainda.)

Abraço a todos, mas especialmente a três pessoas que estiveram comigo nestes 5 anos de escuridão, a minha Mãe a Ana Paula e Margarida Antunes, é para vocês também este texto, vocês foram os únicos na minha plateia, obrigada pelos vossos gritos, estou em pé de novo, fiquem comigo e vamos viver agora!

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